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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Saindo do papel... (quando o menos é mais)

Olá a todos! Aproveitando o artigo anterior sobre o excesso de "tapinhas", falemos um tiquinho sobre direção de criação e direção de arte e as conseqûencias danosas de uma péssima direção de criação sobre a direção de arte. Certa vez trabalhei em uma agência de fundo de quintal, daquelas que não possuem clientes fixos e fazem apenas prospecção para ganhar alguns jobs (eu disse "jobs" e não "clientes"), não registram os funcionários, e o sugam até a morte. Meu chefe havia me dito que estavam entrando no mercado brasileiro algumas marcas famosas (e caras) de suplementos alimentares e segundo boatos estavam procurando pequenos escritórios de design para fazerem a adaptação de rótulos, criação de folhetos e até alguns anúncios em mida especializada. Prontamente ele me disse aquela famosa frase às 18:30h:

- Faz uns 3 layouts para eu levar lá amanhã cedo, lá pelas 9:00

-  Ok... vou fazer os layouts. Mas... qual será o conceito utilizado para os layouts mesmo? Aliás... cadê meu dupla?

Ótimo. Readator vira diretor de criação e diretor de arte vira a noite trabalhando até o fim da vida e em 99% das vezes ganhando um salário de melda. É assim que funciona.


Pois é, sentei com o meu chefe e ele deu "idéias maravilhosas" para a arte. A que acabamos escolhendo, mesmo porque na hora eu devo ter achado a idéia dele boa, e que "infelizmente" não tenho mais o arquivo era a arte mais "brilhante" que eu já vi na minha vida... tá bom vai... eu confesso: não tenho mais o arquivo, é verdade. Mas ainda está na minha primeira pasta que eu guardo até hoje... aquelas pastas que todo mundo compra em papelaria, feitas de napa e com duas alças de naylon...

Ah é? Mas você não teve nenhuma outra pasta depois dessa tosca?
Tive várias, inclusive uma que eu chamo de "pasta de véio", que era de couro legítimo, relevo, fecho não sei das quantas, e coisa e tal. Fedia pra carvalho. Era uma mistura de Feira Agropecuária, casaco de pele, madeireira e vendinha de secos e molhados.


Agora, se você quer um portifólio maneiro, bacana e com um acabamento impecável,  fale com a Cris Ferrer. Farei um post sobre o trabalho dela logo mais. Além do mais, o material que ela usa não tem cheiro de absolutamente nada.


Nem de plástico queimado?
Não.

Borracha queimada, então?
Não, não tem.

ok, voltando... o "layout maravilhoso" tinha ficado... espere aí: umas palavrinhas antes da humilhação.

Putz... eu mal consigo acreditar que estou mostrando meus primeiros trabalhos aqui no blog... eu até poderia fazer  como os adolescentes que formulam perguntas para a Laura Miller no Altas Horas fazem:


- Olha... tem uma amiga minha que está curtindo ter sexo com mais duas ao mesmo tempo e ela me mandou perguntar...


ou então:


- Um amigo de outro amigo meu se masturba 39 vezes por dia... isso é normal?

Veja que nunca são as pessoas que gostam de suruba e ninguém se masturba demais: sempre são seus amigos! Nunca é você! Aprenda isso colega, porque na propaganda e no design também é assim. A culpa não é sua, é do arte-finalista. Não é você que vai ficar até tarde, você já fez o texto da campanha.

Pois é eu poderia dizer que a arte abaixo não é minha, mas infelizmente é. Fazer o quê. Vejamos como ficou:

Escondi a marca de propósito para a empresa americana não me processar. Vocês não tem noção de como estou envergonhado. O quanto eu lutei contra minha vontade de difundir os conhecimentos que acumulei, mas enfim... é fogo pessoal. Para você saber como estou me sentindo, pegue suas fotos dos anos 80 ou 90 (depende de sua idade) e coloque no orkut ou facebook... vai ser um festival de cabelo ruim, dente de coelho ou então aquele freio-de-cavalo na boca, calça saintro-PEITO, excesso de espinha,  roupas ridículas e atitude cafona. Todos os seus amigos irão entrar e rir da sua cara, pois hoje você é loira, usa roupas e acessórios caros, seus dentes são perfeitos, sua pele é boa, misteriosamente seu cabelo está liso e mais misteriosamente ainda você conserva o mesmo peso que você tinha com 13 anos de idade na época do Vigilantes da Boa Forma. Ok, se você tem menos de 30 a transição talvez não tenha sido tão forte como foi nos anos 80. Mas, independente da sua idade, acho que deu pra entender, senão, pegue fotos antigas de parentes mais velhos para dar um look e se assustar um pouco.

Ok, voltemos: independente disso, peguei aquela arte e como a agência era próxima de uma outra grande agência em que meu colega trabalhava fui até lá e mostrei a ele. Sim, vocês estão rindo eu sei. Pois é. Quando ele olhou, arregalou os olhos e virou o layout ao contrário colocou em cima da mesa e disse:

- Bicho, guarda isso aí...

Na hora eu pensei que a arte estava boa pra caraca e que ele estava com medo que alguém visse e me copiasse. Mas ele cochichou no meu ouvido:

- Olha, estou meio ocupado agora, possivelmente vou virar a noite aqui, vai para a sua casa e amanhã conversamos sobre o layout.

- Poxa, amanhã de manhã tenho que entregar isso aí...

A primeira ferrada de um "diretor de criação" a gente nunca esquece:

Esse meu colega era diretor de arte (Hoje ele é Diretor de Criação de uma grande agência)... ele olhou-me nos olhos e disse:


- Vamos tomar um café lá embaixo...
Chegando lá ele me disse:


- Tenho pouco tempo, serei curto e grosso: primeiro, esse produto é para deixar as pessoas gordas? Não, não é. Você é tão despreparado para direção de arte que sequer cogitou a hipótese de alguém olhar isso aí e achar que era um elefante que estava fazendo cooper nesse cenário ruim que você fez.


- Mas é só um layout, cara... eu ia melhorar isso aí, foto e tal...


- Não é o layout, cara... é a idéia. Beleza... tem toda uma historinha aqui... o cara tomou esse produto no café da manhã, treinou corrida e arrebentou o cimento da praça em que  ele corre de tanta força que tinha nas pernas. Só falo para o seu bem: isso aqui está uma porcaria, bixo... acho que talvez você devesse ser redator, você escreve tão bem... você precisa fazer uma arte em que a idéia de força não conflite com nenhuma outra e não dê direito a interpretações negativas ou errôneas...


Cara, ele simplesmente sintetizou todos os toques possíveis e imagináveis em um único período, mas enfim, ele estava coberto de razão. Eu, já cabisbaixo, reclamei:

- Tenho que entregar isso amanhã... não vai dar tempo... eu nem sei o que colocar na arte.

- Bota um cara malhando na academia com aqueles... aqueles.. aqueles... como é mesmo...

E ele ia gesticulando como se alguém estivesse querendo rasgar uma lista telefônica, e puxava e puxava o "algo imaginário" a que ele tentava se referir.. e... enfim aconteceu... fui teletransportado para outra dimensão, pela primeira vez na minha carreira publicitária. Mãos soltas no espaço puxavam esse tal aparelho de academia (que aliás ninguém usa mais, acho... e eu ainda não sei o nome... acho que é "stress", "extensor de molas", "flexor", sei lá) até que se arrebentaram... vocês podem não acreditar, mas naquele instante vi minha arte ali, montadinha... certinha bonitinha... sei que muitos de vocês também enxergam as cosias assim, durante os insights,  lembro-me também que nesta mesma semana esse mesmo cara tinha me mostrado o anúncio muito bacana do câmbio tiptronic... um anúncio de página dupla que era só o volante do tal carro com câmbio tiptronic, cujo tamanho deixava os polegares da pessoa que segurava a revista na exata posição da mudança de marcha e um texto que dizia sobre o cambio e explicava o uso dos polegares na mudança de marcha e tal. Ok... copiei só um pouquinho essa idéia... mas não tem problema... a pessoa que criou aquele lá do câmbio deve ter copiado de alguém também... Como ficou a arte? Assim ó...
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E assim ó...
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 Viram? Tinha um terceiro layout com anilhas, mas não ficou bom. Sem saber, esse meu colega foi o responsável pela criação dessa arte que posteriormente teve que ser adaptada para um folder que dizia em enormes fontes Impact: "Coloque seus polegares aqui e sinta a energia do produto não sei das quantas"... esse é o preço que se paga por não trabalhar em agências que valorizam idéias simples, mas funcionais.

O que aprendemos com este post?


1- A maioria das agências pequenas são lugares horríveis para trabalhar, mas é nelas que se aprende muita coisa.


2- Nem sempre a idéia que te colocam na cabeça é a melhor a seguir. Procure, enquanto desenvolve o "layout-impossível-proposto-por-terceiros-geralmente-pessoal-de-atendimento" (Pra quê pagam um diretor de arte, então?) apresentar contra-propostas mais fáceis e mais de serem interpretadas pelo "homem cumum" e mais interessantes, claro. Já foi dito aqui que enquanto se faz o "rafe" o cérebro "borbulha idéias", com o layout sendo executado também não é diferente, embora devo admitir que, PARA MIM (desculpe a gritaria), durante a leiautagem é menos frequente. Anote tudo e mostre ao seu dupla!


3- Sempre que possível, procure despoluir seus layouts (não só "visualmente" como "intelectualmente"). postarei um tópico que só falará sobre isso qualquer dia desses. Uma pessoa que não trabalha com propaganda gasta, em média, salvo engano, entre 3 e 4 segundos em um anúncio interessante. Faça uma arte que consiga ser "lida" nesse tempo e que prenda a atenção do consumidor por mais algum tempo e, com sorte, você conseguirá que ele leia o anuncio (ou mesmo folheto) todo. Seu cliente vai ter um retorno bem maior com essa sua postura e fará muitos anúncios com você.


4- De novo: se alguém de confiança  detona a sua criação com certeza não é pra ferrar com você ou roubar sua idéia, mas isso não é regra. Um outro colega de faculdade, que aliás é um dos melhores Diretores de Arte que eu conheço já me contou histórias de agências em que a galera "invadia" os micros de outras pessoas ou para sabotar a arte delas ou para "aprimorar" as idéias que elas já estavam tendo. Se isso já aconteceu comigo? Não vou responder.


5- Peça opiniões profissioanis para pessoas mais experientes que você, mas nunca deixe de ouvir a opinião dos que estão começando, especialmente porque eles são mais jovens e entendem o mercado de uma forma que com certeza absoluta você não entende.


- Sim.. eu entendo sim... sou versátil.


- Não... você não entende, não. Não daquela forma. Entenda isso.




That´s all, folks... a gente se esbarra na net... beijo nas meninas e um tapinha nas costas da homarada...  fui!

(essa despedida ia ficar mais legal se fosse no post anterior, mas tudo bem....)

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