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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Se vira nos quinze...

Pessoal, todo mundo sabe que o artista gráfico tem metade do tempo pra fazer tudo, não é verdade? Ok... vamos dar uma olhadinha em uma arte vetorial, com um clima, digamos, "praístico" ou "veronístico" e uma ruiva deliciosa, cuja boca é baseada na de uma mulher que conheci recentemente. Ok... vamos à arte então:

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Observem que o traço já está muito estilizado o clima da imagem é bacana, mas vamos ser francos, pessoal: está um lixo... tosco... meu sobrinho de 9 anos faz melhor sem sombra de dúvidas. Nada de tentar redesenhar a parada a fim de que fique legal... o trabalho é seu, meu amigo e não do desenhista! Você só sabe desenhar "bonequinho de pau" e agora vai ter que pagar o pato, não tem jeito. Hmmm... vejamos o que dá pra ser feito, então...


1) Qual o ponto forte dessa arte?
"Nenhum...", responderá você, sem pestanejar. Mas espere: ó, surpresa! A sua lagoa há de secar, meu amigo! O ponto forte dessa arte é que ela é vetorial, meu chapa (sem trocadilho, juro!)

2) Tá e daí?
Daí, meus jovens, que uma arte vetorial pode ser manipulada elemento a elemento, sem o menor pudor! O que acontece quando você "recorta" um pedaço de uma foto em um programa de edição de bitmap, como é o caso do Photoshop? O fundo sai junto, claro. Fica um pedaço ali na cor chapada do background (BG)... horrível. Já na arte vetorial, você manipula um elemento e voi-lá (nem sei se é assim que se escreve "vô-a-lá"): o fundo continua ali intacto!

3) Ok... mas e daí?
Cara, é simples... vamos dar uma alegria nessa arte chapada como se ela fosse o mais clássico exemplar  das pinceladas mais precisas do mais nobre pintor renascentista. Tudo bem... forcei a barra agora, eu reconheço. My fault... vamos primeiramente separar o elemento "água" dessa magnífica "obra desastre"...



Lindo... nossa... que curvas mais precisas... será que foi feito pela ferramenta "artistic media tool" do Corel Draw? Vamos fazer o seguinte: ferrado, ferrado e meio... vamos escanear uma textura de tinta de um quadro qualquer... pega aquele quadro da sala do seu chefe!



4) Perfeito... tudo que você precisa agora é deixá-la naquele esquema de "tiling" ou seja, esquema de azulejo onde uma pequena textura pode ser definida como pattern e aplicada lado a lado sem falhas. Você não tem noção de como eu gostaria de lhe ensinar a fazer isso, mas fugirá ao propósito deste blog. Há vários tutoriais disponíveis na net, já lhe adianto que a maioria deles enrola demais. Ok. Uma vez feito isso, vamos aplicar a textura sobre o vetor. Há várias técnicas para isso e eu nem deveria abordá-las, afinal isto não é um tutorial. Mas desta vez abrirei uma exceção. Uma técnica possível é escolher a seleção de um dos 2 tons que compõem o elemento água e dar um "paste into selection" já com a textura de tamanho adequado na área de transferência ou então definir a textura como "fill". Mantenha ele num layer separado. Agora selecione todo o elemento água e dê o "paste into" novamente (ou o fill, depende do caso), mas em outro layer separado. Pronto... agora calibre as cores para chegar no tom do vetor, use, por exemplo o hue/saturation e repita a mesma coisa no outro layer, imitando também a cor do vetor e dê um merge nesses dois layers que você trabalhou. Aproveite para fazer uma sombrinha bem delicada em volta da nova figura, que deverá ter ficado assim:



Opa... já tá criando uma cara... parece que vai ficar no esquema, hein?

5) Faça a mesma coisa com o elemento "fogo".

"Ei... mas eu não posso usar esse aí e só aumentar de tamanho?". Não... não pode: a textura vai aumentar de tamanho e vai ferrar o esquema do bagulho.


"Ei... mas eu não posso fazer ele já grandão e ir reduzindo de acordo com os elementos?" Cara... você é insistente, hein? Já falei que se mexer na proporção da textura vai ferrar com o esquema do breguete, meu irmão! Cara chato... beleza... se você seguiu à risca o que eu disse, seu elemento "fogo" deve ter ficado assim:

Viu só? A textura se mantém igual, com a mesma caracterísitica do elemento água, embora com uma área, obviamente maior.

"É... mas este não tem a sombrinha"... Nossa! Jura? Por que será?

6) Faça a mesma coisa com os elementos "ar"  e "terra"

"Eu não estou entendendo essa sua nomenclatura de "serra", "bar","sogro" e "anágua". Na verdade é terra, ar, fogo e água. São os 4 elementos que... ah, deixa quieto. Assista o filme "The last airbender". Meio "geek-infanto-juvenil", mas tudo bem.

7) Disponha os elementos no Photoshop na mesma posição e camadas que estavam na arte original, e caso você tenha seguido à risca tais dicas, bastará apenas dar um tapa nos outros elementos e colocar uma iluminação radial no fundo da arte igual 99% das agências fazem naquele eterno fundinho verde abacate com "splashes" de papel recortado "fincados"  na arte com clipe de papel ou grampo. "Chique no úrtimo...". Pois é... sua arte deverá ficar mais ou menos assim:

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É isso galerinha... espero ter ajudado com mais essa dica "salva-patrão-pão-duro-custo-de-produção-zero"... Grande abraço e até a próxima...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fechando o parêntese: A hora do layout

Fala, galeríssima! Após um trilhão de linhas de teoria, sem nenhuma imagem, vamos falar do próximo passo da criação: o layout (ou leiaute... pode procurar no Aurélio caso não acredite... aproveite e procure também "frecha" e "moçarela" para quebrar um pouco mais o queixo!). Dependendo da sua profissão, essa é uma etapa muito importante porque será o "cartão de visita" da sua arte. Nossa... fiquei pasmo quando li que a Tarsila do Amaral fazia "rafe" e layout de seus quadros! Achei aquilo muito louco! E acredite em mim: os rafes eram tão toscos quanto os nossos (vi o do Abaporu) e havia uma seqüência em que ela ia redesenhando e evoluindo os traços, muito bacana mesmo (para quem estiver interessado, achei esta referência na internet). O que os críticos de arte chamam de "estudo" ou "desenho" na verdade é este trajeto "rafe" -> layout. Leonardo da Vinci também fazia vários estudos de suas mais variadas obras. Vamos então ao que interessa, certo?


Parte 7: Fazendo um layout

Poxa, pessoal... aqui também fica complicado dar diretrizes de como fazer um bom layout porque, mais uma vez, foge ao propósito do blog. Um bom layout dependerá de que técnica estamos falando e, para continuarmos com o exemplo do Converse (fiquem despreocupados, leitores... tenho centenas de outros tipos de arte digital que eu mesmo fiz, com a mesma qualidade, cujos posts abordarão o processo criativo e prometo que quando terminar esta parte do Converse mudaremos de imagem: ainda falaremos sobre logos, texturas e arte vetorial e blá blá blá blá) terei de explicar o que fiz após o "rafe".

a) Entendendo o propósito do layout do Converse

Pessoal, fiz aquele "rafe" no intuito de divulgar o meu trabalho e utilizar a banda de um amigo meu como vetor. Ocorre que mandei o layout para a banda e eles nem se importaram. Alguns dos layouts que mostrarei aqui são trabalhos "fracassados" que ficaram legais para discutir a respeito, mas que ainda não foram utilizados (são freelas mesmo e não "ghosts"... não faço mais "fantasmas" há um bom tempo porque não estou mais interessado em trabalhar com propaganda). Continuando: fiz o "rafe" e vi que ficou legal e dentro do clima da banda deste meu colega. O próximo passo seria montar um layout, não em baixa definição, mas com alta definição e pouca riqueza de detalhes (luz, sombra, textura etc). Aliás, meus amigos, é um conselho que lhes dou: caso você tenha uma equipe de arte a sua disposição, mas você necessite não só apresentar ao estúdio um "rafe" mas sim um layout bem feito, evite criar grafismos diretamente no Photoshop (ou outro programa que você goste de usar) e evite também utilizar texturas (por exemplo, aquelas que ficam em canal alfa, para dar a sensação de desgaste que são difíceis de reproduzir) em baixa resolução. Tive muitos problemas de a arte final do estúdio ficar bem pior que meus layouts. Isso aconteceu simplesmente em todos os locais que trabalhei. Culpa de quem? Do estúdio? Do arte finalista? Do assistente? Não... culpa minha. O pessoal do estúdio e o fotógrafo não tem a obrigação de ter a mesma percepção artística que você. Nem o mesmo gosto por luz e sombra,e, por uma falha que percebi em todos os locais que trabalhei, não houve um planejamento adequado no esqueminha furado de separar a criação do resto da agência.Cabe à criação orientar os profissionais envolvidos no início ao fim e eu não fazia isso por achar que eles desempenhariam suas atribuições de acordo com o layout proposto. Ledo engano.


Momento stand-up-comedy (pule este parágrafo caso você seja careta e possua a cor da pele no tom "verde-escritório".)


Cara... para quem nunca trabalhou em agência, pense numa colcha de retalhos... para fazer uma peça qualquer são necessários um redator, um diretor de arte, um fotógrafo, normalmente terceirizado e que mora na puta-que-pariu, um produtor gráfico que vai verificar a viabilidade de execução da peça, um produtor de não-sei-que-lá que vai correr atrás das coisas incomuns que você escolheu pro layout ,dezenas de assistentes de arte, depois esse layout é apresentado pro cliente pelo profissional de Atendimento, volta para a criação assinar/revisar/refazer, todos os profissionais acima revisam tudo um bilhão de vezes e te ligam de 5 em cinco minutos como se você já não tivesse problemas suficientes, vai pro diretor de criação foder com tudo, volta de novo pra criação revisar/assinar, vai pro estúdio/arte final e se transforma, "misteriosamente" numa coisa totalmente diferente da que você e seu dupla fizeram. Entendeu porque um diretor de arte trabalha 100 horas por dia? É questão de logística... Na moral? Teve um dia que eu li um livro que o cara começava um dos capítulos assim: "o atual sistema de criação das agências foi utilizado pela primeira vez pela [agência tal] e deu muito certo e não sei o que mais". Cara... depois que li isso, eu fiz um boneco voodoo dessa agência maldita! Peguei o nome dos caras e costurei na boca do sapo, meu irmão! Tá me tirando? Puta sistema furado do caralho! Triplica meu salário (600 real) que eu faço essa merda sozinho e na metade do tempo.

Ok, nível de serotonina normal, vamos continuar. Observem que "legal" ficou meu layout depois do "rafe":
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b) Ficando desesperado
Ok... vamos combinar uma coisa: o "rafe" ficou melhor, pessoal. Beleza, você perdeu 4 horas ou mais preparando fotos, seguiu seu "rafe" à risca... mas mesmo assim, você se ferrou. "Maldito Art Blower e seu horrível poema predileto postado anteriormente...". Pois é... maldito seja eu. Mas o que deu errado? Seria a fome? Será que é porque estou trabalhando há 34 horas seguidas sem reconhecimento nenhum do pessoal da empresa e ganhando 1/3 do que os outros caras (que não sabem 1/4 do que eu sei) que trabalham comigo ganham? Maldição de algum vampiro? Não, meus caros. Quando isso acontecer (e vai acontecer, acredite) é hora de olhar o mundo real. Cara... e não é que meu ex-redator tinha razão?

"- Cara... você tem que sair mais, bixo... dar umas olhadas no mundo real, peixe..."

E não é que o santista tinha razão, pessoal? Muito do que eu sei, devo a esta pessoa. Tem que se observar o mundo real. Essa é a parte mais dura... é como mandar um filho recém nascido ao cirurgião plástico para lhe tirar as "dobrinhas" e a cara de joelho. Vejamos porque aquele layout ficou uma bosta:

1- Alguma vez na sua vida você já viu um tênis de roqueiro com todos os ilhoses sendo perfeitamente trespassados por cadarços limpíssimos? E pior: todos os trespasses idênticos como se fosse a mais perfeita costura do mais nobre alfaiate. Aí não dá né?


2- Cara... que língua de sapato é aquela? Melhor abortar a idéia e tentar outra coisa.


3- "Palheta" para dar um "ambiente rock"? Ela pode ficar... mas caso você nunca tenha pego numa guitarra, vai dar um rolê na Teodoro Sampaio, pelamordideus...


4- A marca "Converse" está "perfeita". Ela é o que mesmo? Vinil adesivo aplicado sobre o tecido? Não colega... é hora de pegar um Converse de verdade e ver como aquilo se comporta no tecido, que textura tem, etc...


5- Que mancha é aquela abaixo da logo? Esperma? Pegue imagens da Monica Lewinsky na internet e outra do Supla para você aprender a diferenciar tecido "gasto" (conforme indicado no "rafe") e a tal mancha apresentada no layout.


6- Que luz é aquela do layout? De holofote? tudo chapado... assim não dá...


7- A borracha da parte de cima até que ficou legal, com beiradas desiguais e etc... dá até pra ver a hachura da borracha... mesmo assim a junção dela com o tecido não tá legal. Pegue um Converse e veja como a borracha se "funde" com o tecido e verá que há uns "caminhozinhos" de cola e uma sombra bem profunda dividindo os dois materiais. "Poxa... mas peguei um Converse e não estou vendo esses detalhes que você está vendo não...". Não se preocupe... é igual ao filme Matrix: um dia você verá.


8- Há dois planos de tecido nessa arte: Um na moldura grudada na borracha com a costura dupla (Oba! um elemento novo! A costura foi colocada depois! Na hora do rafe, nem pensei em costura... viu como nem tudo é negativo na hora do layout? Alguns detalhes você só perceberá na hora que estiver leiautando...) e um grupo de ilhoses e outro nível também com a costura e outro grupo de ilhoses... fiz esse detalhe para simular aquele "abraço" sobre a língua do Converse de certa forma a enrugar o tecido, mas não ficou bom... peciso colocar umas "beiradas" naquele espaço negro e ver se consigo, pelo menos, passar a idéia do que seja.


9- A parte de baixo ficou muito carregada... frisos vermelhos com ilhoses e costuras não tá legal... vamos dar uma equilibrada!


10- Vamos dar uma desbotada no tecido e colocar umas manchas de barro e bebidas, afinal, tênis de roqueiro é surrado.


Corrigindo tais defeitos, podemos perceber significante melhora na expressão artísitica do "breguete":

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Viram? algumas perguntas poderão surgir:

a) Os cadarços continuam iguaizinhos para mim...

R: Também achei que dava pra melhorar mais... mas lembre-se: 16 horas!

b) A palheta ficou legal ali?

R: Ah... eu achei que deu um "tchan"...

c) O que tem a ver aquele logo do artblower no fundo da arte?

R: Nada a ver... eu coloquei pra dar um grau na treta, além do mais se alguém pegar a imagem e colocar em algum lugar a galera visitará meu blog!

d) Aquele elemento rock de bombinha...

R: Ah, tá... é de uma outra série de "splashs" que fiz e postarei aqui mais tarde... o post se chamará "como criar splashes criativos"

e) Mas "nite" não tá errado escrever daquele jeito?
R: Sim, está.

f) Achei sua arte meio poluída...
R: Também achei... mas está dentro da proposta do estilo.

g) Achei que está ruim esta arte... e sei que dá pra melhorar muito ainda.
R: 16 horas, pessoal... 350 dpi 42x28cm, pentium 4 e etc...

h) Mas dá pra melhorar muito ainda, não dá?
R: Com certeza... observe que a sombra do cromado dos ilhoses está tudo igual, a borracha perdeu a hachura com as sombras novas, o "rockn roll all nite" está "boiando" na arte e tem um treco preso na "língua" do Converse que eu não faço a menor idéia de como foi parar lá... além do mais não tem ponta nos cadarços e nehum deles está bem frouxo, como é costumeiramente observado neste tipo de tênis cano longo.


Ufa! post bem longo... well... see you next time, guys and girls!

domingo, 28 de novembro de 2010

Abrindo UM parêntese...

E aí, seguidores e futuros seguidores! A quantas anda a sua veia artística? Vamos continuar o nosso subjetivo trabalho de aprendizado da arte de criar. Nessa parte 5 vamos falar de um ponto que ficou meio "solto" e não foi abordado com a seriedade que deveria. Ok. Eu reconheço que este poste deveria estar inserido antes da criação do "rafe", mas ia ficar muito longo e você não iria prestar a devida atenção. Para quem não leu o outro post, por favor, leia antes de continuarmos. Todos prontos? Ok! Vamos lá!


Parte 5: Como tornar meu trabalho interessante?

Vocês se lembram das aulinhas de arte na escolinha da Tia Nita, certo? Qualquer que seja o nome da sua professora primária, você já deve ter observado que diferentes pessoas possuem habilidades diferentes. Observe os cartunistas por exemplo. Eles têm uma capacidade interessante de expressar a arte: eles sintetizam conceitos, idéias e fatos em apenas uma tirinha. A quantidade de palavras e idéias que uma pessoa normal redigiria em 314 páginas eles colocam em 3 ou 4 "balõezinhos" e às vezes nem texto precisa. Os diretores de arte das agências de propaganda (e os redatores) são muito bons nisso também. Lembro-me que uma vez me disseram:

- Você até que é um bom diretor de arte, mas duvido você criar uma imagem que traduza a frase "Uma imagem vale por mil palavras".

Claro que nunca contei à essa pessoa (não sou de esnobar ninguém... he he he), mas no mesmo instante pensei em umas 3 ou 4 formas de se resolver essa parada. Essa é uma característica que eu e outros milhares de artsistas possuimos. Somos o que eu chamo de "artístas sintéticos". Há também o que eu chamo de "artistas analíticos" mas depois falo deles, ok? Claro que não nasci assim: lembro que meu primo Carlos e eu fazíamos "histórias em quadrinhos" quando tínhamos uns 10 ou 11 anos. E ele sempre falava:

- Cara... fico impressionado como você consegue desenvolver sua história em tão poucos quadrinhos... queria tanto fazer assim...

Realmente... as histórias dele ficavam super longas: 7 ou 8 páginas e as minhas acabavam em 2 páginas no máximo. Mal sabia ele que o que eu tinha era uma "buta" duma preguiça em desenhar, isso sim. Veja o artista HR Giger, por exemplo. Ele é o extremo total em ser um artista sintético. Ele extrapolou esse meu conceito de "sintético". O cara não traduz uma idéia, conceito ou fato em uma tela: o cara traduz um universo paralelo em uma tela. Você simplesmente olha o trabalho desse cara por, no meu caso, 10, 15 20 minutos e você literalmente viaja para outra dimensão. É isso que as pessoas "normais" não sacam. Ficam igual "idiotas hipnotizados" (com todo respeito aos não-artistas) olhando uma obra de Giger por 20 minutos e não se dão conta porque fizeram isso. Fizeram porque o cérebro se interessou pelo assunto e está tentanto "decifrar" aquela complexa obra de arte. O cérebro de qualquer pessoa quando vê novidade logo se interessa. É isso que você deve passar para o papel. Observe por exemplo uma criancinha no circo. Ela gosta de tudo ali porque tudo é novidade pra ela. Tudo diferente do ambiente em que ela vive (possivelmente só a casa e a escola). Eu pergunto ao leitor: se tanto a casa quanto a escola dessa criancinha fosse diariamente "forrada" de palhaços, poodles saltitantes tingidos de rosa, luzes piscantes, mágicos, algodão doce, trapézio, malabaristas,  tivesse cheiro de amendoim e bosta de elefante, músicas da Xuxa tocando o tempo inteiro e um mestre de cerimônias, você acha que esta hipotética criança iria adorar ir ao circo no final de semana com os pais ou assistir Naruto no Cartoon Network? Pois é pessoal... assim funciona o cérebro. E é assim que você tem que pensar quando for criar alguma coisa. Criar é criar. Repetir é repetir. Ué... mas meu chefe vive dizendo que na natureza nada se cria tudo se copia. Isso. E é exatamente por culpa de pessoas como ele que as agências de propaganda (ou design) de segundo escalão estão indo pro buraco. Ninguém quer ver coisa repetida, pessoal! Ver criações repetidas é tão legal quanto assistir Sessão da Tarde. Mas tudo bem. Vamos respeitá-los, afinal de contas, são pessoas como eles que fazem os artistas autênticos ganharem bem. Eu sei, eusei: há artístas autênticos que não ganham bem. Não se preocupe: Romero Brito já deve ter pensado assim. Romero Brito é como o Oscar Niemeyer disse, a respeito de si mesmo, em certa entrevista:

- Você pode até falar que não gosta do meu trabalho. Mas não pode dizer que já viu algo parecido.

Exato, pessoal! É por isso que ele é o Oscar Niemeyer e o arquiteto Zé  é o Zé.

Parte 6: Ok, Artblower... entendi tudo. Mas seja mais direto, por favor...


Mais direto, impossível. Voltemos à escolinhaa da Tia Nita. Cada pessoa cria de um jeito, cada pessoa se dá bem com determinados tipos de materiais e algumas não se dão bem com porcaria nenhuma. Primeiramente, para se criar algo interessante é necessário a utilização da ferramenta certa para você. Aqui ficaria meio imprudente da minha parte indicar as ferramentas e materiais adequados para você trabalhar e fazer artes bem mais classudas que as do Giger. Creio que eu chocaria 99% das pessoas se revelasse que para fazer a arte do Converse apenas usei um Pentium 4, Corel Draw 8, Photoshop 7 e uma câmera digital de 4.1 "merdapixels". "Nossa! Você deve ter levado meses", clamarão alguns... afinal já mencionei a resolução da arte, mas na verdade levei menos de 16 horas para finalizar o arquivo! Agora fala a verdade: existem equipamentos e ferramentas mais toscos do que estes? Você nota agora como aquele papo de Macintosh, PC, Illustrator, Corel Draw  é pura babaquice? Você tem que criar na plataforma ou programa que você se sente melhor, caso sua arte seja digital, ou utilizando-se da técnica que mais lhe agrada. Note, por exemplo, que um aerógrafo traria uma qualidade muito maior e um realismo impressionante no trabalho do Converse e uma colagem, sem sombra de dúvidas, o tornaria mais interessante, dada as quebras geométricas e de contrastes que esta técnica permite. Não tem receita de bolo, pessoal... foge ao propósito do blog. O que eu posso é fornecer certas diretrizes para que você aprenda a identificar ou aprimorar suas vocações e habilidades. Voltando ao ponto:

Resumo da ópera:

a) Utilize a técnica ou ferramenta que mais lhe agrada: se você gosta de arte vetorial (maioria dos designers) evite trabalhar com fotos. Se tem que usar fotos, aprenda a fundí-las com seu estilo (ex: a arte vetorial é "chapada", "chape" as fotos em monochrome e você obterá uma identidade visual das fotos com os vetores. Isso foi só um exemplo.)

b) Crie visuais interessantes e inovadores mas sem tentar reinventar a SUA roda. Isso ajudará a desenvolver um estilo próprio, além de tornar a criação e execução dos trabalhos de forma mais rápida e natural. Quando você menos perceber as pessoas já estarão identificando seu estilo sem saber que a criação é sua.

c) Faça um "rafe" antes mesmo de dar o primeiro paso na sua obra-prima. Leia este poema de Augusto dos Anjos e veja o porquê:

A Idéia
Augusto dos Anjos

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Isso nada mais quer dizer o seguinte, pessoal: na nossa cabeça todas as criações são lindas e maravilhosas, mas na hora de nos expressarmos fica uma merda. Sempre é assim. Fazer o quê. Faça um rascunho e veja se aquilo vai sair conforme o planejado ou não. Como já dito antes, nesse processo outras idéias surgirão. Anote tudo.

d) Procure pensar em suas criações (que está desenvolvendo, vai desenvolver ou não está com inspiração), durante a hora de dormir.  É um momento de relaxamento e com certeza seu cérebro trabalhará aquilo mesmo que você não se lembre ao acordar. mas há também outras formas: um colega meu tinha os "insights" durante o banho... sabe-se lá o que ele fazia lá dentro do banheiro para ter essas "viagens".


Ok... post longo eu sei. Tô indo nessa. Até a próxima e, mais uma vez, obrigado por dividir sua paixão criativa comigo!

Grande abraço!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O bom e velho processo criativo...

Cara, eu costumo dizer que criar é igual fazer cocô. E não adianta dizer que não. Um amigo meu vive me dizendo que, embora eu tenha passado em um concurso público, a arte pulsa dentro do meu cérebro. E não é que ele tem razão? É como se fosse uma necessidade fisiológica. Tem que sair e não tem outro jeito. Se você segura essa necessidade criativa por muito tempo, aquilo vai acabar saindo de forma embaraçosa. Para que passar vergonha meus amigos? Deu vontade, faça! Esses dias eu fui assistir a um show de rock de bandas locais e conforme eu apreciava a musica saindo das guitarras, contrabaixos e baterias, uma imagem rockística começou a saltar diante de meus olhos (sim, meu amigo... imagens "brotam" da minha mente e se materializam diante dos meus olhos desde que eu me conheço por gente). Era um tênis Converse (ou All-star, como queira...) com uma quantidade de detalhes extremamente surpreendente que ficava "batendo" no ritmo da musica, tal qual os pés dos guitarristas ficam quando estão tocando sentados. Nem dei bola. Toda vez que estou curtindo algo, acontece coisas semelhantes. Não, caro leitor: não uso drogas. Meu cérebro é assim mesmo, deve ter vindo com defeito de fabricação assim como aqueles sinestésicos que enxergam cores, gosto ou cheiro nas músicas. Achou estranho? Espere um dos próximos posts em que explicarei como crio as logomarcas que faço vez ou outra e aí sim você me chamará de estranho. Ok... o post ficou longo e você está cansado... vou resumir: o tênis se desdobrou como se fosse um origami e ficou plano igual a uma folha de papel e evaporou bem na frente de meus olhos. Isso dura um milésimo de segundo, mas é uma experiência fantástica. Claro que cheguei em casa e passei tudo aquilo pro papel! foi fabuloso, pessoal! Mas como era esse tênis "planificado"? Você deve estar se perguntando. Como são essas imagens? Calma, pessoal! Por se tratar de algo interessante, ensinarei nesse post como criar coisa semelhante e ainda matar sua curiosidade.

O que você aprenderá neste post?

1- Como extrair "momentos de loucura" de sua mente criativa e aplicar nos seus trabalhos.
2- Como exprimir MATERIALMENTE um conceito qualquer em, por exemplo, uma peça publicitária
3- O que fazer para tornar sua criação mais viva e interessante



Ok... antes de mais nada vou matar sua curiosidade... a "bagaça" ficou assim:

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Parte 1: O bom e velho "rafe":

Não importa se você chama de rascunho, "rough", raff, raf, rafi ou sei lá o que mais. não adianta, meu caro. Tem que desenhar num papel. Eu sei, eu sei... eu também relutei no começo. Mas é assim... não tem jeito. E quem disse que precisa saber desenhar? Onde é que você leu isso? Me fale onde está escrito que designer e diretor de arte devem desenhar melhor que Miguel Ângelo? Isso é uma total bobagem. O "rafe" é importante porque só ele vai conseguir transmitir o tipo de curva, o tipo de detalhe e a expressão daquilo que você está criando. Muito dificil o sujeito pegar um programa de edição vetorial e, num curto espaço de tempo, desenhar um rascunho tão bom quanto um feito à mão. Perca este seu trauma e vá "treinando". Garanto que valerá a pena! Ok! Vamos em frente...


Parte 2: Juntando informações para fazer um "rafe"

Aqui cada um aprenderá por tentativa e erro. Vamos supor que eu não tivesse "visto" tal imagem em minha mente. Eu teria primeiramente um conceito a ser desenvolvido: uma peça do vestuário de rockeiros dos anos 80. Perfeito... um Converse preto. Vamos dar uma olhada nele, pessoal!
Uau! Meu predileto: converse preto com friso vermelho! Ótimo! Vamos analisá-lo visualmente. O que chama mais a atenção nele? Por que isso é um Converse cano-longo e não uma banana-maçã? O que ele possui que o torna um Converse? Seriam as cores? Se eu pintasse uma Ferrari  de preto e vermelho e te mostrasse você diria que era uma Ferrari ou um Converse? Certamente você diria que era uma Ferrari, logo não são as cores que tornam o Converse tão característico. Seria o formato? Faça um teste. Imprima aquela imagem do converse "planificado" e esconda a logomarca e mostre para algum sujeito que goste do Converse. Você acha que ele vai falar que aquele quadrado de Jeans com ilhoses é uma Ferrari, uma banana-maçã ou uma borboleta? Nenhum dos três, obviamente isso foi uma brincadeira idiota. O mais provável é que ele lhe responda: "Nossa... que legal! Você que fez?". Mesmo que ele não identifique um Converse de imediato, ele fará a leitura de que aquilo possui elementos que compõem um tênis (jeans/lona, cadarço, ilhoses, borracha branca com hachura, etc). Esses elementos todos, somados à logomarca em forma de estrelha compõem um elemento industrializado que conhecemos por Converse. Se ele estivesse todo desmembrado e as peças estivessem todas soltas em cima de uma mesa (ilhoses, cadarços, borrachas com frisos e hachuras, jeans/lona preta, e linha de costura, palmilha, biqueira e linha, tela de silk da logomarca e tinta) e alguém lhe pedisse para "montar" um produto industrializado, certamente, se você fosse uma pessoa normal, você montaria um Converse (desde que o conhecesse previamente). Eu disse "SE você fosse uma pessoa normal". Eu, por exemplo, se tivesse todas essas peças soltas, montaria a arte lá de cima, sem dúvida nenhuma! Você também, certo? Mas nós somos artistas... não somos "normais", com a divina graça de Deus! Voltando à sanidade mental, o que caracteriza um Converse é uma série de elementos que o compõe, dispostos de forma específica (ex: ilhoses lado a lado, friso vermelho separando o tecido da borracha, costura aparente, bico emborrachado com hachura, etc). Pronto! Você já tem vários elementos importantes para você "enfeitar" o seu "rafe"...

Parte 3: Desenhando o "rafe":

 Cá entre nós, pessoal! A parte mais difícil já foi, vai? Agora é só escolher o material. Isso não tem regra... alguns gostam de lapis, outros de caneta, outros de canetinha hidrocor. Eu prefiro as hidrocores porque posso já indicar no "rafe" como essas cores se comportarão... isso mesmo, galera! Eu desenho vários "rafes" até sair algo mais ou menos... rs... repare só:

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Sim! A arte final saiu desse desenho, pessoal! E que arte final... o arquivo original tem o formato 42x28 e 300 dpi! Se alguém estiver interessado ($) é só me avisar...  :)

Na verdade esse "rafe" é o terceiro... note que ele já tem outros elementos que dão maior ênfase ao conceito rock´n roll proposto na hora da criação. Mas esse assunto será retomado mais tarde.


Parte 4: fique ligado enquanto desenha

Uma coisa importante que poucas pessoas dão atenção na hora de fazer o rascunho: idéias surgirão conforme você rabisca no papel. Creio que isso aconteça porque enquanto desenha você está estimulando seu lado cerebral responsável pela criatividade. Tente fazer anotações rápidas do lado do desenho enquanto você rabisca para se lembrar delas mais tarde. Um dia você ainda me agradecerá por esta dica, caso já não a utilize. Observe que nesse meu rascunho tem algo anotado...

Well, o post tá bem longo... vou parar por aqui e mais tarde continuamos nossa prosa artística. Prometo!


Obrigado pela leitura e por dividir sua paixão criativa comigo!

Até a próxima...








Olá a todos!

É com grande satisfação que comunico à galera sedenta por informações do processo criativo da arte gráfica que, a partir de hoje, vocês terão mais uma fonte de conhecimento e saber! Sim, meus caros! A maior dificuldade que eu tinha na minha longa caminhada no mundo do design digital (25 anos) era não a de achar os tutoriais para se realizar determinado trabalho e sim algo menos tangível: o processo criativo em si! De 1984 para cá, trabalhei com vários tipos de computadores, do TK-85 ao Macintosh, passando pelo Comodore Amiga, MSX, e hoje descobri que, para minha alegria, os Pc´s e seus fabulosos processadores Core i5 e i7 estão dando no coro... uau! Quem diria que um dia eu iria elogiar um PC? Computadores extremamente lentos, hardware sofrível e cheios de "bugs" até 2004 foram resgatados do escárnio gráfico e se mostram a melhor solução custo x benefício. Confesso que quase vomitei quando fiquei sabendo que os Macs usariam processadores Intel, mas agora, me curvo diante de sua sofreguidão tecnológica. Vida longa à Intel!  Aos que estão imaginando que vou batalhar e duelar contra seres que odeiam o Corel Draw, que vou defender o Mac em relação ao PC e outras babaquices do gênero, peço que esqueçam esta idéia! Aqui não se trata de ser designer ou diretor de arte, de arte finalista ou bureau, grafiteiro ou webdesigner... a parada aqui é outra, meus caros! Vamos falar de arte na forma mais abstrata que existe. Vamos falar de processo criativo e não de software ou hardware... vamos falar de conceito e não de ferramentas. Vamos aprender e discutir juntos porque uns trabalhos são, aparentemente, mais interessantes do que outros. E melhor: aprenderemos juntos a aplicar isso no nosso trabalho, qualquer que seja ele. Mãos à obra, senhores! Vamos enriquecer nosso cérebro criativo com mais informações úteis!