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domingo, 28 de novembro de 2010

Abrindo UM parêntese...

E aí, seguidores e futuros seguidores! A quantas anda a sua veia artística? Vamos continuar o nosso subjetivo trabalho de aprendizado da arte de criar. Nessa parte 5 vamos falar de um ponto que ficou meio "solto" e não foi abordado com a seriedade que deveria. Ok. Eu reconheço que este poste deveria estar inserido antes da criação do "rafe", mas ia ficar muito longo e você não iria prestar a devida atenção. Para quem não leu o outro post, por favor, leia antes de continuarmos. Todos prontos? Ok! Vamos lá!


Parte 5: Como tornar meu trabalho interessante?

Vocês se lembram das aulinhas de arte na escolinha da Tia Nita, certo? Qualquer que seja o nome da sua professora primária, você já deve ter observado que diferentes pessoas possuem habilidades diferentes. Observe os cartunistas por exemplo. Eles têm uma capacidade interessante de expressar a arte: eles sintetizam conceitos, idéias e fatos em apenas uma tirinha. A quantidade de palavras e idéias que uma pessoa normal redigiria em 314 páginas eles colocam em 3 ou 4 "balõezinhos" e às vezes nem texto precisa. Os diretores de arte das agências de propaganda (e os redatores) são muito bons nisso também. Lembro-me que uma vez me disseram:

- Você até que é um bom diretor de arte, mas duvido você criar uma imagem que traduza a frase "Uma imagem vale por mil palavras".

Claro que nunca contei à essa pessoa (não sou de esnobar ninguém... he he he), mas no mesmo instante pensei em umas 3 ou 4 formas de se resolver essa parada. Essa é uma característica que eu e outros milhares de artsistas possuimos. Somos o que eu chamo de "artístas sintéticos". Há também o que eu chamo de "artistas analíticos" mas depois falo deles, ok? Claro que não nasci assim: lembro que meu primo Carlos e eu fazíamos "histórias em quadrinhos" quando tínhamos uns 10 ou 11 anos. E ele sempre falava:

- Cara... fico impressionado como você consegue desenvolver sua história em tão poucos quadrinhos... queria tanto fazer assim...

Realmente... as histórias dele ficavam super longas: 7 ou 8 páginas e as minhas acabavam em 2 páginas no máximo. Mal sabia ele que o que eu tinha era uma "buta" duma preguiça em desenhar, isso sim. Veja o artista HR Giger, por exemplo. Ele é o extremo total em ser um artista sintético. Ele extrapolou esse meu conceito de "sintético". O cara não traduz uma idéia, conceito ou fato em uma tela: o cara traduz um universo paralelo em uma tela. Você simplesmente olha o trabalho desse cara por, no meu caso, 10, 15 20 minutos e você literalmente viaja para outra dimensão. É isso que as pessoas "normais" não sacam. Ficam igual "idiotas hipnotizados" (com todo respeito aos não-artistas) olhando uma obra de Giger por 20 minutos e não se dão conta porque fizeram isso. Fizeram porque o cérebro se interessou pelo assunto e está tentanto "decifrar" aquela complexa obra de arte. O cérebro de qualquer pessoa quando vê novidade logo se interessa. É isso que você deve passar para o papel. Observe por exemplo uma criancinha no circo. Ela gosta de tudo ali porque tudo é novidade pra ela. Tudo diferente do ambiente em que ela vive (possivelmente só a casa e a escola). Eu pergunto ao leitor: se tanto a casa quanto a escola dessa criancinha fosse diariamente "forrada" de palhaços, poodles saltitantes tingidos de rosa, luzes piscantes, mágicos, algodão doce, trapézio, malabaristas,  tivesse cheiro de amendoim e bosta de elefante, músicas da Xuxa tocando o tempo inteiro e um mestre de cerimônias, você acha que esta hipotética criança iria adorar ir ao circo no final de semana com os pais ou assistir Naruto no Cartoon Network? Pois é pessoal... assim funciona o cérebro. E é assim que você tem que pensar quando for criar alguma coisa. Criar é criar. Repetir é repetir. Ué... mas meu chefe vive dizendo que na natureza nada se cria tudo se copia. Isso. E é exatamente por culpa de pessoas como ele que as agências de propaganda (ou design) de segundo escalão estão indo pro buraco. Ninguém quer ver coisa repetida, pessoal! Ver criações repetidas é tão legal quanto assistir Sessão da Tarde. Mas tudo bem. Vamos respeitá-los, afinal de contas, são pessoas como eles que fazem os artistas autênticos ganharem bem. Eu sei, eusei: há artístas autênticos que não ganham bem. Não se preocupe: Romero Brito já deve ter pensado assim. Romero Brito é como o Oscar Niemeyer disse, a respeito de si mesmo, em certa entrevista:

- Você pode até falar que não gosta do meu trabalho. Mas não pode dizer que já viu algo parecido.

Exato, pessoal! É por isso que ele é o Oscar Niemeyer e o arquiteto Zé  é o Zé.

Parte 6: Ok, Artblower... entendi tudo. Mas seja mais direto, por favor...


Mais direto, impossível. Voltemos à escolinhaa da Tia Nita. Cada pessoa cria de um jeito, cada pessoa se dá bem com determinados tipos de materiais e algumas não se dão bem com porcaria nenhuma. Primeiramente, para se criar algo interessante é necessário a utilização da ferramenta certa para você. Aqui ficaria meio imprudente da minha parte indicar as ferramentas e materiais adequados para você trabalhar e fazer artes bem mais classudas que as do Giger. Creio que eu chocaria 99% das pessoas se revelasse que para fazer a arte do Converse apenas usei um Pentium 4, Corel Draw 8, Photoshop 7 e uma câmera digital de 4.1 "merdapixels". "Nossa! Você deve ter levado meses", clamarão alguns... afinal já mencionei a resolução da arte, mas na verdade levei menos de 16 horas para finalizar o arquivo! Agora fala a verdade: existem equipamentos e ferramentas mais toscos do que estes? Você nota agora como aquele papo de Macintosh, PC, Illustrator, Corel Draw  é pura babaquice? Você tem que criar na plataforma ou programa que você se sente melhor, caso sua arte seja digital, ou utilizando-se da técnica que mais lhe agrada. Note, por exemplo, que um aerógrafo traria uma qualidade muito maior e um realismo impressionante no trabalho do Converse e uma colagem, sem sombra de dúvidas, o tornaria mais interessante, dada as quebras geométricas e de contrastes que esta técnica permite. Não tem receita de bolo, pessoal... foge ao propósito do blog. O que eu posso é fornecer certas diretrizes para que você aprenda a identificar ou aprimorar suas vocações e habilidades. Voltando ao ponto:

Resumo da ópera:

a) Utilize a técnica ou ferramenta que mais lhe agrada: se você gosta de arte vetorial (maioria dos designers) evite trabalhar com fotos. Se tem que usar fotos, aprenda a fundí-las com seu estilo (ex: a arte vetorial é "chapada", "chape" as fotos em monochrome e você obterá uma identidade visual das fotos com os vetores. Isso foi só um exemplo.)

b) Crie visuais interessantes e inovadores mas sem tentar reinventar a SUA roda. Isso ajudará a desenvolver um estilo próprio, além de tornar a criação e execução dos trabalhos de forma mais rápida e natural. Quando você menos perceber as pessoas já estarão identificando seu estilo sem saber que a criação é sua.

c) Faça um "rafe" antes mesmo de dar o primeiro paso na sua obra-prima. Leia este poema de Augusto dos Anjos e veja o porquê:

A Idéia
Augusto dos Anjos

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Isso nada mais quer dizer o seguinte, pessoal: na nossa cabeça todas as criações são lindas e maravilhosas, mas na hora de nos expressarmos fica uma merda. Sempre é assim. Fazer o quê. Faça um rascunho e veja se aquilo vai sair conforme o planejado ou não. Como já dito antes, nesse processo outras idéias surgirão. Anote tudo.

d) Procure pensar em suas criações (que está desenvolvendo, vai desenvolver ou não está com inspiração), durante a hora de dormir.  É um momento de relaxamento e com certeza seu cérebro trabalhará aquilo mesmo que você não se lembre ao acordar. mas há também outras formas: um colega meu tinha os "insights" durante o banho... sabe-se lá o que ele fazia lá dentro do banheiro para ter essas "viagens".


Ok... post longo eu sei. Tô indo nessa. Até a próxima e, mais uma vez, obrigado por dividir sua paixão criativa comigo!

Grande abraço!

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